DPF Delano Cerqueira Bunn

DPF Delano Cerqueira Bunn



Ele ingressou na corporação no ano de 2003; exerceu a chefia na Delegacia de Defesa Institucional em Recife Pernambuco (2004/2005) e, em Maceió Alagoas, na Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários e na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (2009). Posteriormente, foi Delegado Federal Regional de Combate ao Crime Organizado (2009/2010).

Em Brasília Distrito Federal, passou a ocupar o cargo de Chefe da Divisão de Direitos humanos da Polícia Federal (2010/2013) e foi Coordenador também de Recursos Humanos (2013/2015).

Em 2016, tornou-se superintendência da Polícia Federal em Fortaleza Ceará e, em 2018, torna-se Diretor de Gestão de Pessoal da Polícia Federal.

Quais são os principais desafios que o Senhor vislumbra enfrentar na Diretoria de Gestão de Pessoal?


Nosso principal desafio e grande objetivo é deixar um significativo legado em um pequeno espaço de tempo. Estamos em um ano eleitoral, final de um mandato presidencial, temos, ao menos, até o final do ano para trabalharmos e desenvolvermos projetos de interesse da Polícia Federal. 


Qual será a principal diretriz da gestão? 


A principal diretriz é deixarmos um legado, ou seja, desenvolver e finalizar projetos que fortalecerão a Polícia Federal. Essa é a linha do nosso Diretor-Geral, e, para tanto, devemos buscar obter melhorias para os integrantes da nossa Instituição.

Atualmente, estamos trabalhando com um grande questionamento da Polícia Federal, que é a questão do sobreaviso. Propomos ao Dr. Galloro que o sobreaviso fosse encarado como uma atividade que acontece após o expediente, sendo uma hora não trabalhada, onde o servidor fica em casa, mas pode ser acionado a qualquer momento. 

Segundo a legislação trabalhista, o sobreaviso é compensado. Há um acórdão do TCU que da autonomia aos órgãos públicos para regulamentar esse assunto. 

Entendemos que essa compensação não pode ser por folga, pois geraria grande prejuízo ao desenvolvimento das atividades. A Polícia Federal funciona durante vinte e quatro horas nos sete dias da semana e precisa de todos os seus servidores para a condução dos seus trabalhos com excelência.

Se essa compensação viesse através de indenização conseguiríamos atender o interesse publico, não diminuiríamos as atividades policiais e indenizaríamos o tempo que o policial é privado do pleno gozo de seu descanso. 

Essa é uma questão que sempre angustiou a todos, porque o servidor de sobreaviso sai de sua rotina, não pode, por exemplo, viajar, visitar um parente, ir em uma reunião de amigos e ingerir bebida alcoólica, pois pode ser acionado a qualquer momento. Isso prejudica até o seu sono, visto que o policial fica em atenção, esperando o acionamento e acaba não dormindo direito, enfim, há prejuízos que devem ser indenizados. Assim, no momento em que ele for acionado, já é hora trabalhada, mas o período em que ele está em casa esperando e com a perspectiva de ser acionado, ele será indenizado. 

Haverá um projeto de Lei que regulamentará a questão do sobreaviso, onde deverá ser utilizada a mesma hora da indenização de fronteira, e assim, estaríamos valorizando os nossos servidores que estão lá na ponta.

Ademais, já tivemos uma reunião com as entidades de classe. Esse assunto foi debatido e bem recebido pelas mesmas e o Dr. Galloro, assim que ficou ciente do projeto, deu-nos todo o apoio e meios necessários para o seu desenvolvimento.


Com os recentes escândalos de corrupção, aparentemente, aumentou a demanda de agentes, peritos, escrivães e delegados para a conclusão desses trabalhos. O último concurso de delegado, perito e escrivão foi em 2012 e, de agentes em 2014. Assim, há perspectiva de abertura de concurso público para o preenchimento de cargos para atender a demanda da polícia agravada pela aposentadoria dos antigos servidores? 


Essa é outra medida de gestão que atuamos. Foi alterado um decreto presidencial e, com isso, o Diretor-Geral passou a poder autorizar a realização do concurso público que já foi autorizado. Isso foi um avanço muito grande para a nossa instituição. Apenas quatro instituições têm essa prerrogativa e a Polícia Federal é uma delas. 

Teremos um prazo de 45 dias para publicação do edital, onde será contratada a empresa que organizará a realização das provas. Portanto, ainda não sabemos a empresa responsável pela aplicação, mas há uma perspectiva que a primeira fase do concurso ocorra ainda em 2018, o curso de formação comece no final de fevereiro e termine até o final de junho ou julho de 2019, realizando uma formatura única para a incorporação dos 500 novos policiais, sendo 150 delegados, 180 agentes, 60 peritos criminais federais, 80 escrivães e 30 papiloscopista.

A prova conterá algumas peculiaridades inerentes ao cargo, por exemplo, a prova de escrivão terá uma fase de digitação e a de delegado terá prova oral. 


O que os cargos exercidos anteriormente, Chefe da Divisão de Direitos Humanos no ano (2010/2013) e Coordenador de Recursos Humanos (2013/2015), poderão acrescentar e ajudar nesse novo desafio?


Como já exerci esses cargos, já estou acostumado com as peculiaridades da função e demandarei menos tempo para me readaptar. Nessa linha de raciocínio tentei compor a minha equipe com pessoas que tem experiência nessa área de gestão de pessoal para que nesse pouco tempo de trabalho tenhamos resultados expressivos.


Como ocorreu o processo de escolha desse novo cargo? O senhor já tinha trabalhado ou era amigo do novo Diretor-Geral Rogério Galloro? Como é a relação entre vocês?


O Doutor Rogério Galloro, assim que foi anunciado, começou a montar a sua diretoria. Ele me fez o convite e eu aceitei de imediato. Eu era superintendente da Polícia Federal no Ceará e foi uma honra esse convite. Poder voltar a trabalhar com a Gestão de Pessoas na Polícia Federal, contribuindo com a administração, tendo a oportunidade de tornar a Polícia Federal cada vez mais forte, me deixou muito feliz. Não teria como recusar um desafio como esse.

Eu já trabalhei em outras oportunidades com o Dr. Galloro, tanto aqui em Brasília quanto em Pernambuco. Ele foi Delegado Regional Executivo na superintendência em Pernambuco; apesar de eu não estar alocado na superintendência, eu realizava algumas operações policiais na região, sendo delegado na área operacional. 

Como diretor executivo na Gestão do Dr. Daiello, o Dr. Galloro idealizou um método eficiente para desenvolver trabalhos e buscar soluções e maior diálogo entre a Polícia Federal e as entidades de classe. 

O primeiro trabalho que logrou êxito, muito por conta desse novo mecanismo de trabalho, foi a comissão de estudos de modernização da Polícia Federal. 

Esse novo método eficiente para as negociações com as entidades de classe se baseava em reunir as pessoas que estavam na cúpula das entidades de classe, com perfil negociador, com representantes da administração da Polícia Federal. O Dr. Galloro acabou elegendo o coordenador de recursos humanos, cargo que eu ocupava na época, para representar à Polícia federal. 

Nesse grupo de trabalho tivemos grande proximidade com as entidades de classe, no qual resultou projetos para o fortalecimento da Polícia Federal, projetos esses atemporais, visto que eles continuam, mesmo após alterações, no Comando da Polícia Federal.

O senhor poderia detalhar todos os projetos idealizados nesses grupos de trabalho?

Podemos destacar a instrução normativa das gestantes e lactantes, em que foi protegida a maternidade e a primeira infância.

A política de desenvolvimento de pessoal, que nos possibilitou ser uma instituição de vanguarda em matéria de pesquisa e inovação. Nossos mestrados e doutorados, pagos pela instituição, são frutos de uma conquista e partem de uma metodologia de necessidade da instituição. 

Temos um mestrado na área de engenharia da produção em Pernambuco, administração pública em Brasília, tecnologia da informação em Santa Catarina.

O que os nossos mestrandos estão estudando são necessidades reais da instituição.

Assim buscamos uma aproximação com as universidades, soluções tecnológicas, inovação, patente e desenvolvimento da indústria nacional de segurança pública. Esse é um projeto grandioso.

Nossa academia nacional de polícia é uma entidade certificadora de pós-graduação e mestrado. 

Outros projetos estão aguardando o melhor momento para apresentação. Eles vão desde instruções normativas, portarias ministeriais, portaria interministeriais, decretos presidenciais, leis, medidas provisórias e emendas constitucionais. 

Temos um manancial de ações e de propostas aqui na diretoria de gestão de pessoal para ter a Polícia Federal uma legislação de vanguarda na área de gestão de pessoas.

Os projetos estão todos idealizados, porém temos questões políticas, proximidade das eleições, intervenção federal, que impedem a realização de algum desses projetos, visto a impossibilidade de emenda constitucional.

Temos como ponto favorável e facilitador para a viabilidade desses projetos a criação do novo Ministério da Segurança Pública, que passou a alocar a Polícia Federal, anteriormente vinculado ao Ministério da Justiça. 

Acredito que um novo ministério, somado a um novo Diretor-Geral que conhece a fundo as peculiaridades e oportunidade de melhoria da sua instituição, torna o ambiente favorável a novas ideias, novos projetos, que certamente fortalecerão a Polícia Federal como um todo. 

Talvez não sejam apresentados todos os projetos, mas todos serão debatidos com as entidades de classe e avançaremos com todos que sejam de pauta comum. 

Ano que vem poderão haver mudanças nos principais cargos do executivo e legislativo, então, queremos trabalhar e apresentar projetos que tenham efeitos imediatos, que possam ser concluídos ainda neste ano. 

Queremos deixar um hall de projetos para serem trabalhados e desenvolvidos no ano que vem, mas, principalmente, queremos aproveitar a oportunidade da criação desse novo ministério para desenvolvermos projetos de interesse comum, ainda nesse ano de 2018. 


Como ficará o projeto da Polícia Federal de Ensino Médio, apresentado pelo Dr. Segóvia?


O projeto da polícia fardada foi apresentado, pois se buscava aproveitar aquele momento que, aparentemente, era propício para a execução do projeto, visto que o governo federal pensou e cogitou acabar com a força nacional. 

O antigo Diretor-Geral viu a oportunidade da apresentação desse projeto, dentro do Ministério da Justiça, no intuito de atender uma demanda do atual Ministro da Justiça em encontrar uma solução definitiva para as fronteiras, deixando de utilizar a força nacional. Esse pleito deriva muito da vontade dos Governadores em não ter os seus policiais militares incorporados pela Força Nacional, pois os Governadores alegam que a força nacional retirava policiais dos seus Estados.  

Acontece que o contexto político agora é outro, não estamos mais atrelados ao Ministério da Justiça.

O projeto estava pronto, foi apresentado para as entidades de classe e ele começou a ser debatido internamente por cada categoria. Obviamente, é muito difícil obter 100% de consenso, mas a ideia da DGP sempre foi buscar o consenso e tentamos nos aproximar ao máximo desse objetivo, porque esse projeto é muito mais que a criação de um cargo, estamos trabalhando a valorização do nível superior dos escrivães, agentes e datiloscopistas, além de aumentar o senso de pertencimento e a perspectiva de futuro de todos os servidores da Polícia Federal, buscando uma solução de carreira, pensando na retenção de talentos, na melhoria de critério de ingresso, na questão de trazer uma nova carreira de desafios e oportunidades.


Ainda estamos sofrendo com a crise financeira que teve o seu auge em 2017. Como fica o planejamento orçamentário para todos os projetos a serem desenvolvidos? 

Alguns projetos estão comportados dentro do orçamento, como o da política de desenvolvimento de pessoal que incluem os mestrados e doutorados; já o projeto de indenização de sobreaviso é um projeto novo que não estava previsto. 

Sabemos que precisamos fazer ajustes orçamentários, como toda empresa e família devem fazer o seu dever de casa em época de crise.

Eu passei dois anos como gestor, ordenador de despesa, da superintendência do Ceará e pude desenvolver uma série de projetos de economia de gasto público. Desenvolvemos um estudo apresentado para a direção geral que demonstrou superávit orçamentário nas atividades realizadas naquela superintendência.

Somando todo o fluxo de entrada de capital (taxa do exercício do poder de polícia como a paga na retirada de passaporte ou renovação do certificado de registro de armas, materiais apreendidos economicamente mensuráveis frutos das operações policiais), abatendo toda a saída de capital (conta de luz, água, telefone entre outros, além do salário dos servidores); demonstramos que no ano de 2016, cada R$ 1,00 (um real) investidos na superintendência do Ceara, devolvíamos para a sociedade R$3,46 (três reais e quarenta e seis centavos), demonstrando que éramos uma instituição superavitária.

Importante destacar que nossa superintendência não era a com maior e nem menor efetivo, muito menos realizou a principal operação policial, como a operação Lava Jato, que proporcionou a maior recuperação para os cofres públicos do dinheiro desviado pela corrupção. 

Com esse estudo podemos concluir e comprovar que se fortalecermos essa instituição, que é tão querida pela sociedade, podemos potencializar esse superávit. 

Para esse fortalecimento, necessitamos de medidas para a gestão de pessoas que envolvem impacto financeiro, mas são impactos pequenos considerando que, estimular e prestigiar os servidores da Polícia Federal é, de certa forma, estimular a eficiência desses servidores gerando um retorno ainda maior para a sociedade.



O Senhor acredita que os recentes escândalos de corrupção e a ênfase pela mídia no trabalho da Polícia Federal aumentaram a pressão nos agentes da corporação? Se sim, quanto isso ajuda e prejudica?


Pressão sempre existiu e sempre vai existir. Ser policial é, certamente, uma das profissões mais estressantes do mundo. O que dá mais pressão? Uma operação de combate à corrupção ou de facção criminosa?  Tudo é pressão, o trabalho policial é pressão; você andar com sua família e ter a possibilidade de ser reconhecido por algum bandido é pressão, e é exatamente essa pressão que ampara os nossos pleitos em ter um tratamento diferenciado em alguns aspectos, e, um deles, é justamente a questão previdenciária. 

Monitoramos e identificamos, desde o ingresso do policial, a instituição tem o acompanhamento psicológico dos seus servidores; inclusive, uma das etapas do concurso, é o exame psicológico. Ali, auferimos alguns aspectos do comportamento psicológico do candidato para saber se ele está apto ou não para ocupar um cargo policial. 

Ser policial é ser resiliente, é ter uma bagagem emocional adequada, não ser melhor nem pior do que qualquer outro trabalhador, mas o policial deve ter determinadas características que acomodem dentro desse contexto de pressão que sempre existiu. 

Nós temos profissionais de saúde que tentam atender a nossa demanda, que visam potencializar as nossas capacitações de gerenciamento de estresse e habilidade sociais. és das superintendências e convênios com outros órgãos públicos, os nossos policiais que estão com alguma necessidade de acompanhamento médico, trabalhando isso de maneira transversal.

Temos a modalidade de remoção para determinadas necessidades médicas. Portanto, temos ferramentas eficazes para tratar nossos servidores.

Qual mensagem o Senhor gostaria de transmitir para todos Policiais Federais que estão lendo nossa matéria?


Retornamos a Diretoria de Gestão de pessoal com o objetivo de tornar a Polícia Federal mais forte. Quero sair daqui com a cabeça erguida, com sentimento de dever cumprido e, para isso, eu não estou medindo esforços. Trabalho todos os dias, sábado, domingo, não tem hora certa para atendermos um servidor, um pleito, como um colega da fronteira que precisa de uma ajuda uma palavra. 

A nossa meta aqui no DGP é estoque zero, ou seja, finalizar tudo que começou, no mesmo dia, não deixando nada pendente. Esse trabalho já está sendo reconhecido pela celeridade dos processos que tramitam aqui dentro, como processo de remoção e licença de capacitação. 

Minha meta é voltar para área operacional, que sempre gostei, e ver que meu trabalho rendeu frutos, tornou a Polícia Federal mais forte e eficiente. O meu objetivo é encontrar a Polícia Federal mais forte na atividade fim, como o inquérito policial, controle migratório e proteção das fronteiras, que é a principal vitrine da Polícia Federal.

Entrevista Realizada no gabinete do Delegado Delano Cerqueira Bunn em Brasília

Edição: 61 - Março/Abril



Associação dos Delegados da Polícia Federal

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