DPF Alessandro Carvalho Liberato

DPF Alessandro Carvalho Liberato



        A revista Artigo 5´º, após divulgação pela mídia de suposto fechamento do posto da Polícia Federal em Fernando de Noronha/PE, houve por bem ir até o arquipélago para apurar a veracidade das informações. O Diretor Comercial Wander Ribeiro pegou um vôo Recife – Fernando de Noronha e, após 1 e meia, da janela do avião, deparou-se com um cenário deslumbrante em que o azul supremo das águas, em contraste com o verde impactante da vegetação, despertou uma sensação de completude, não podendo ser definida, senão de outro jeito, como a visão sublime da natureza. Ao desembar naquele território formado por 21 ilhas, ilhotas e rochedos de origem vulcânica, ocupando uma área total de 26 km quadrados e pagarmos a Taxa de Preservação Ambiental presente no local (TPA), encontrou-se com o Delegado Alessandro Carvalho Liberato de Mattos. Formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, o Delegado de 44 anos ingressou na Polícia Federal em 1999. Posteriormente, lotou-se em Juazeiro/BA, Natal/RN, Foz do Iguaçu/PR, Salvador/BA e, em 2010, foi cedido à Secretaria de Defesa Social (Segurança Pública) do Estado de Pernambuco até 2016.


Como é a gestão da Polícia Federal em Fernando de Noronha?


A gestão é feita pela Diretoria Executiva (DIREX). As duas delegacias que têm mais atuação são a Delemig e a Delemaph, mas nós rodamos com um rodízio de 30 em 30 dias com efetivo do Brasil todo. Então, se algum policial quiser ser voluntário, basta se dirigir à Direx, falar com o DRCOR e, via recrutamento, mandar um e-mail informando se há agentes, delegados e escrivães voluntários para Noronha e montar a equipe. Por incrível que pareça, voluntário para função aqui é difícil porque você passa 30 dias na ilha.

Ainda estamos sofrendo com a crise financeira que teve seu auge no ano anterior. Tendo em vista que a ilha tem cerca de 3 mil habitantes, porém um número incerto de visitantes que pode acabar atrapalhando, como ficam os planejamentos para a cidade?


Nós temos uma rotina que eu diria que é até repetitiva. O efetivo que tem aqui é suficiente: quatro para o serviço que deve ser feito. As demandas principais são o aeroporto, na questão de embarque armado e despacho, e o porto com a entrada e saída de embarcações. Toda embarcação que entra e sai de Noronha, independentemente de ser internacional, tem o nosso controle, até para sabermos quem entra e sai da ilha. Na questão de barco, fazemos a migração quando vem de fora, e isso possui uma importância estratégica que é o controle de passageiros, de embarcações saindo do país, principalmente, pela questão do tráfico de drogas. Então, fazemos esse controle de triagem para verificar possíveis ilícitos. Existe o tráfico de drogas mais pesado que é feito por navio; aquele de porto em que o infrator coloca 3, 4, 5, 10 toneladas de drogas no navio, mas também há o veleiro que coloca 300, 400, 500 kg. Há dois anos a polícia pegou um veleiro que acabou ateando fogo no barco, afundando com a droga. Assim, nós temos intercâmbio de informações via GISE, via INTERPOL, via Adidância, para apurar se aquela rota, barco ou passageiro é suspeito. Quanto ao tráfico de animais, o último caso que se conheço remonta há tantos anos que a gente não vê isso.


Para combater a questão do tráfico, tanto de animais quanto  de drogas, é importante manter uma relação com outros órgãos. Como é feita esta parceria para que haja um maior proveito nesse combate?


O entrosamento da Polícia Federal com a Polícia Civil e a Polícia Militar é muito grande. Há o delegado da polícia civil e uma equipe. Eles passam 30 dias na ilha e 30 dias no continente. 30x30 é a equipe fixa. Não é como a gente que vai passar aqui e pode não voltar mais. Ainda, há o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o maior demandante que a gente tem de órgão federal em razão do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. 


Fernando de Noronha se enquadra em uma das cidades mais desenvolvidas do Brasil, atraindo turistas de todas as partes. Quais são as maiores dificuldades enfrentadas?


As pessoas que chegam são de uma tranquilidade enorme, não havendo muitos problemas na ilha. Esses dias, por coincidência, enquanto a equipe voltava para o hotel de trânsito, houve um problema entre um padrasto e um enteado que brigaram dentro de casa, mas a polícia conteve a situação. De regra, você pode circular na ilha de forma tranquila, deixar suas coisas na praia, ou em determinado local e entrar na água.


Em Fernando de Noronha se tem um excedente populacional, juntamente com os conflitos socioambientais e o turismo. Considerando esses problemas, existe algum projeto que vise a controlá-los? 


Desconheço. O que nós temos de demanda na área de Delegacia de Repressão aos Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico (Delemaph) é coisa de pequeno tamanho, mas que tem que ser feita no dia a dia para não se perder o controle e acabar com essa ilha, que é um paraíso. Aqui, você tem um berçário de diversos tipos de peixes e aves e, se essa diversidade acabar, acaba-se com um bioma que é especial. Há algumas espécies em extinção como o caranguejo terrestre e a lagartixa Mabuya. No mais, há pessoas que fazem reforma sem estar autorizado, ou que ampliam algum tipo de construção que é tombada, mudando a fachada, por exemplo, mas acredito que com o controle feito na ilha de entrada e saída (Taxa de Preservação Permanente – TPA) há um volume máximo de turistas. Inclusive, uma das razões para o encerramento dos transatlânticos no território foi, justamente, para melhor controle dos visitantes.


Na mídia, muito se falou sobre o fechamento do posto avançado da Polícia Federal. Qual a veracidade destas informações?


Nenhuma! A Polícia Federal não vai fechar. Havia somente dois policias, dois agentes nos últimos três, quatro anos, quando então o Doutor Cairo reativou a equipe completa, com um delegado, um escrivão e dois agentes a cada 30 dias. Essa rotatividade existe desde maio. O posto está passando por uma reforma em que será trocado o telhado inteiro, ficando em perfeitas condições de trabalho, tudo reformado. A área física continuará a mesma. Não há possibilidade de ampliar porque aquele prédio tem um valor histórico. Mas é um prédio que estava sem manutenção há anos e, quando chovia, molhava dentro... o forro estava soltando, a energia dando problemas...


Após esta expansão do posto avançado, há algum próximo passo a ser dado? 


Acredito que fazendo a reforma do posto, mantendo essa equipe de quatro policiais e tendo o apoio do órgão central para manter efetiva a equipe, é o suficiente.


Qual sua opinião sobre a PEC 412?


Eu apoio plenamente. Se você tiver autonomia financeira, se você estiver mandado para o seu dirigente, se você puder ter a lista tríplice para indicar dentro da categoria, há uma positividade muito grande. 


Quais efeitos ela causaria em sua administração em Fernando de Noronha?


O objetivo da gestão é cumprir a missão dada. Na verdade, eu não faço a gestão aqui na ilha; estou passando 15 dias, o próximo que vier passa 30. Basta cumprirmos as atribuições institucionais da Polícia Federal.

Em entrevista com Delegado Delano Cerqueira, ele comentou sobre o grande questionamento da Polícia Federal em relação ao sobreaviso. Qual a opinião do senhor sobre este tema?


Sobreaviso não deixa de ser trabalho. Você tem que ficar a postos para ser acionado a qualquer momento. Então, se vier, nada mais do que justo. E que isso seja feito.


Qual mensagem o senhor gostaria de transmitir para todos os Policiais Federais que leem está entrevista?


Que se dediquem de corpo e alma à profissão. Que a abracem e tentem fazer cada vez melhor o serviço e, quando saírem da Polícia Federal, deixem ela melhor do que quando entraram. É um patrimônio do país e eu tenho um orgulho muito grande de fazer parte dela.


Entrevista Realizada no posto provisório em Fernando de Noronha



Edição: 63 –
Julho/Agosto



Associação dos Delegados da Polícia Federal

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