Chefe da DPF/CAS/SP EDSON GERALDO DE SOUZA

Chefe da DPF/CAS/SP EDSON GERALDO DE SOUZA

Fernando Augusto Battaus assume o comando da Polícia Federal de Ribeirão  Preto – Notícias - Revide


Como foi o início da sua carreira na Polícia Federal? Em que posto, ficou lotado inicialmente? Como foi a sensação de participar da primeira operação?


Iniciei minha carreira na Polícia Federal pela Delegacia de Polícia Federal em Presidente Prudente, à época chefiada pelo Delegado de Polícia Federal Luiz Pontel de Souza. A 600 km da capital, a unidade está localizada em um ponto estratégico do estado de São Paulo. Enquanto Foz do Iguaçu, no Paraná, tem a tríplice fronteira, Presidente Prudente, em São Paulo, tem a tríplice divisa, com os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, o que nos levava a inúmeros flagrantes e investigações envolvendo contrabando e tráfico de drogas e de armas. Foi uma primeira e grande escola ao lado de colegas altamente qualificados, os quais, em sua maioria, alçaram altos postos na Alta Administração da Polícia Federal nos anos seguintes. Cheguei à unidade acompanhado de mais um colega também recém-formado na ANP, no ano de 2006, que hoje também está em Brasília. Tudo era muito empolgante, novo, afinal, acabávamos de ingressar em uma das mais respeitadas instituições públicas do país. As operações eram frequentes e sempre encaradas com muito entusiasmo. As histórias pitorescas foram se acumulando e as amizades e companheirismo também. Em menos de um ano tive a oportunidade de ser removido para a Delegacia em Ribeirão Preto, minha cidade natal, onde fui chefiado a maior parte da minha permanência ali pelo Delegado Federal Lindinalvo Alexandrino de Almeida Filho, uma lenda em nossa instituição e, hoje, Superintendente Regional da Polícia Federal em São Paulo. Foi ali, em Ribeirão Preto, com Dr Lindinalvo e outros colegas que iniciamos uma escola de gestão estratégica reconhecida publicamente nos meios jurídicos e pela nossa própria instituição. Daquela escola de gestão em Ribeirão Preto saíram nove chefes de delegacias, dois DREX’s (SP e SC) e o atual Superintendente Regional de São Paulo. As dezenas de operações de tráfico de drogas e as de corrupção, especialmente na prefeitura de Ribeirão Preto (Operação Sevandija), resultaram em experiência sólida em polícia judiciária e histórias sobre as quais pretendo escrever um dia. Enfim, com a saída do Dr Lindinalvo, fui indicado por ele e assumi a chefia de Ribeirão Preto, na qual permaneci até 2019. Tenho saudades desses tempos.


Sempre foi um sonho ser da PF? Antes de entrar na Polícia, trabalhou em outra área?


Antes de ingressar na Polícia Federal eu estava me preparando para as carreiras jurídicas, especialmente a magistratura do estado de São Paulo. Trabalhava no TJSP, onde adquiri uma riquíssima experiência do mundo jurídico, enquanto mantinha uma rotina diária espartana de estudos, a exemplo de todos nossos colegas. Em meios aos estudos surgiu a oportunidade de inscrever-me no concurso da Polícia Federal. Sentia-me confiante nos exames da magistratura, com resultados cada vez mais promissores, mas Delegado? Delegado de Polícia Federal? (risos). Não estava confiante porque a abordagem jurídica era muito diferente. Eu era um especialista em Processo Civil, ponto altamente exigido nos exames da magistratura. Foi preciso uma revisão da preparação. Centrei-me no edital e ingressei em um curso preparatório específico e lembro bem de um dos professores que dizia algo assim: “Pessoal, prestem atenção! Vocês vão ser Delegados Federais! Vão chegar naquela viatura preta e dourada, descer, olhar para um lado, olhar para o outro, tirar os óculos pretos e dizer: Cheguei!” (risos!). Eu era jovem e a brincadeira serviu como um motivador extraordinário. Comecei a imaginar-me na instituição. Eu quis aquilo e quis muito. As provas e o que eu passei é uma história à parte. Fica para outra oportunidade. Mas, até hoje, quando paro para pensar sobre a dedicação e disciplina que exigiram para ser aprovado, as dificuldades, as superações pessoais e tudo que já fiz e tive oportunidade de fazer, conhecer e aprender dentro da Polícia Federal, não há preço que pague. Tenho orgulho de integrar os quadros da Polícia Federal. É até excessivo, mas é minha paixão profissional e quero manter assim.


Quais os principais desafios e metas na chefia regional da Polícia Federal em Campinas?


Campinas é a primeira região metropolitana do país não integrada por uma capital. É uma região riquíssima e um polo de desenvolvimento econômico, financeiro, industrial, tecnológico e de pesquisas. Abriga grandes empresas e instituições de ensino de renome internacional. É uma sociedade orgulhosa de si e cuja cidade conta com mais de 1,4 milhão de habitantes, sem contar outros quase 3 milhões da RMC (região metropolitana). Conta com um dos maiores e mais avançados aeroportos de passageiros e cargas do país, pelo qual circulam mais de 10 milhões de usuários/ano. A circunscrição da Delegacia é composta por 60 cidades e cinco subseções judiciárias, com varas especializadas em crimes contra o sistema financeiro e lavagem de capitais. Quando assumi a chefia da unidade, em 13.6.2019, encontrei uma unidade já fortemente estruturada pelas gestões anteriores e com o suporte integral da Superintendência Regional, a qual atualmente está sob a administração do Delegado Federal Lindinalvo Filho, com quem trabalhei por 10 anos, o que facilita em muito a comunicação e resolução de questões. Mas, o grande desafio era dar continuidade ao trabalho de aperfeiçoamento de polícia judiciária da unidade. Para esse fim, fui munido de informações pela chefia anterior, pela Corregedoria Regional e pelo próprio Superintendente. A partir desse quadro, a gestão foi centrada no aperfeiçoamento de processos, gestão qualitativa de produtividade, simplificação de rotinas, qualificação de setores e gerenciamento de competências. O êxito, até agora, deve-se a um instrumento de gestão que fez parte da escola de Ribeirão Preto: reuniões semanais com os Delegados de Polícia Federal da própria unidade e com chefes de setores. Falar, ouvir, discutir, registrar em atas, converter em normativos, e rever continuamente as rotinas e resultados. Um processo de transparência de meios e de metas. Apesar dos desafios, encontrei forte apoio da SR e um seleto grupo de Delegados Federais altamente capacitados e dispostos, além de ter sido ofertada a oportunidade de poder trazer um colega de Ribeirão Preto com disposição e capacidade profissionais únicas, DPF Flávio Vieitez Reis. Em equipe, não há obstáculos intransponíveis na Polícia Federal.


Quais foram as principais melhorias implementadas pela atual gestão?


Apesar do gigantismo da unidade (é uma das duas únicas unidades do país classificada como Classe 2; a outra é Santos), a sua estrutura não é de uma superintendência, na qual há funções de apoio gerencial e especializadas. No entanto, resolvemos que iríamos trabalhar em especializações em polícia judiciária, inteligência e gerência administrativa, desde de Delegados até setores de apoio e que criaríamos rotinas simples e claras para todos os setores, fundadas especialmente na visão de quem está na linha de frente. Com a evolução das diretrizes e instrumentos de gestão da DG e da SR, acoplamos soluções locais, o que resultou em uma unidade caracterizada pela eficiência e efetividade. Fomos elogiados pelo Poder Judiciário e Ministério Público e sentimo-nos confiantes de que estávamos no caminho certo. Consolidamos as relações institucionais e aprimoramos os canais de comunicação interna. E, em recente manifestação correcional, recebemos reconhecimento quanto à velocidade das adequações de incorreções apontadas. Acredito que sejam estas nossas contribuições até o momento.


Como está a implementação do laboratório de química forense para perícias no Aeroporto de Viracopos?


O Laboratório de Química Forense instalado no Aeroporto Internacional de Viracopos foi uma grande conquista para a unidade. O mérito, porém, é da competente gestão anterior e do apoio do Ministério Público do Trabalho. Uma herança muito bem-vinda, especialmente pela finalidade e adequação às necessidades de Campinas. Com um dos maiores aeroportos de carga do país, continuamente reconhecido, inclusive por entidades estrangeiras, igualmente tornou-se canal vital do tráfico internacional de drogas e armas. Em números na casa de centenas, as perícias geralmente da área de química forense exigiam uma estrutura maior do que a que dispúnhamos (entre 33% e 50% das perícias em Campinas são da área de Química). Construído e modelado fielmente às necessidades do NUTEC, cuja supervisão foi confiada aos PCFs, o laboratório está em fase final de testes e, tão logo superada as medidas de distanciamento social decorrentes da pandemia do CV19, entrará em sua capacidade máxima de funcionamento, com a transferência integral de equipe e equipamentos da delegacia para suas moderníssimas dependências. O laboratório atenderá não só as demandas de Viracopos, mas todas as demandas de perícia química – e também documentoscópica – da unidade em Campinas.


Qual a importância desse equipamento para os trabalhos da Polícia Federal de Campinas? Quais os aeroportos que já contam com esse equipamento?


Viracopos não tem uma DEAIN. Então, o trabalho realizado ali é por policiais federais selecionados e que compõem o quadro da própria delegacia em Campinas. A atual estrutura faz com que seja mais fácil, atualmente, transferir as ocorrências policiais para a delegacia, especialmente para realização de exames periciais. Agora, com 135m2, dentro do sítio aeroportuário e anexo ao posto de atendimento da Polícia Federal, o laboratório foi equipado com estrutura e equipamentos de última geração e permitirá, com as tecnologias de acesso remoto aos sistemas de polícia judiciária, formalizar todas as ocorrências do aeroporto, especialmente as de tráfico de drogas, dentro do próprio aeroporto. Essa questão deve ser pensada sob a ótica de que, em um aeroporto internacional, nem sempre estamos falando de cocaína ou maconha, mas de drogas sintéticas e medicamentos proibidos cuja identificação da composição é crucial para determinar a prisão em flagrante. A nova estrutura resultará em menor tempo de resposta a ocorrências, maior qualidade dos exames, os quais, às vezes eram realizados em São Paulo ou Brasília, e menor movimentação de policiais, viaturas, drogas e presos.


Qual a média de apreensão de drogas no aeroporto por ano?


Chegamos fácil a média, nos últimos anos, de meia tonelada de cocaína por ano. Em 2018, chegamos perto de uma tonelada. É importante lembrar que, salvo apreensões no setor de cargas, cada ocorrência é de, em média, 500 gramas, um ou dois quilos talvez, o que torna a média anual expressiva. Não é possível considerar o ano de 2020, tendo em vista a interrupção do fluxo aéreo internacional.


Além do Tráfico de Drogas, quais as principais preocupações da Polícia Federal no aeroporto de campinas?


O aeroporto é uma área de trabalho policial peculiar e traz ocorrências igualmente peculiares, como malas de dinheiro, como ocorreu em 3 de julho, um passageiro que carregava quase meio milhão de reais. O controle do tráfego internacional de pessoas, especialmente de menores exige atenção máxima por parte dos policiais federais. Outro trabalho que tem exigido treinamento de pessoal, tanto nosso quanto dos demais atores aeroportuários, e que tem contado, e muito, com a atuação conjunta do Ministério Público do Trabalho, é o tráfico de pessoas e exploração do tráfico de drogas por pessoas de baixa renda que, normalmente, aceitam transportar drogas intracorpo. Esse tipo de repressão exige estrutura médica e longo períodos entre início e fim de lavratura de flagrantes. Enfim, a atuação policial em aeroportos exige um treinamento especial e cuidados com todos e quaisquer detalhes, especialmente na área que dedicamos vital importância: segurança aeroportuária e da aviação civil.


No ano passado presenciamos assaltos cinematográficos nos aeroportos brasileiros, sendo que o Aeroporto de Campinas sofreu um assalto que visava uma grande quantidade de dinheiro que seria transportada para Londres. Houve alterações nas medidas de segurança no terminal de cargas dos aeroportos?


Esse é um tema em que a Polícia Federal em Campinas tem sido constantemente cobrada. E, sim, temos trabalhado tanto na prevenção quanto na repressão desses eventos. 


O senhor poderia informar quais foram as mais importantes?


Preventivamente, iniciamos treinamentos cada vez mais rigorosos, amplos e intensos tanto dos nossos policiais quanto dos demais atores aeroportuários. Os exercícios obrigatórios de segurança da aviação civil (ESAB e ESAIA), no ano passado, contou com o apoio da DIREX/PF, o que nos permitiu a participação de integrantes do COT. Os exercícios foram intensos, chegando o mais próximo possível da realidade de crises no sítio aeroportuário. Coordenado pela Polícia Federal, o treinamento incluiu policiais civis e militares, bombeiros, serviços médicos, paramédicos, companhias aéreas e a administração do aeroporto. Reuniões regulares são realizadas para discutir aperfeiçoamentos das medidas de segurança. Neste sentido, já vemos com bons olhos os resultados, mas estamos cientes de que ainda há muito por fazer. No aspecto da repressão, desde os acontecimentos, a Polícia Federal tem se dedicado à elucidação dos fatos.


Como estão as investigações do caso, já houve alguma prisão?


Como dito, são investigações em andamento e estão sob segredo de justiça. No entanto, a se destacar que o roubo de 17.10.2020 ocorreu logo após os primeiros treinamentos e resultou em resposta rápida e imediata por parte de todos, especialmente da Polícia Federal, Guarda Municipal de Campinas e Polícia Militar. O roubo terminou em tentativa frustrada, sem que os criminosos levassem qualquer vantagem, com grande perda, por parte deles, de material bélico e veículos e sem nenhuma baixa por parte dos integrantes da segurança pública ou civis, apesar dos inúmeros confrontos envolvendo escudos humanos, carros blindados, contingente expressivo de criminosos, planejamento tático por parte deles e armamento de guerra, com o uso de armas com calibre .50. Duas das rodovias mais movimentadas do país foram interditadas com caminhões em chamas. A destacar que a Polícia Federal foi elogiada na imprensa por sua atuação rápida naquela oportunidade. A SR enviou prontamente os melhores homens da DELEPAT e NID, além do GPI, enquanto Brasília enviou o COT. Embora sejam fatos graves e nocivos à sociedade, importa destacar, ante a inevitabilidade do crime e audácia dos criminosos, o ponto que realmente importa: a resposta da Polícia Federal e demais integrantes da Segurança Pública. Foi muito bom e fortalecedor ver todos os policiais dedicados a enfrentar a situação sem hesitação.



Quais foram as principais mudanças operacionais na polícia federal de campinas por conta da COVID-19?


As medidas foram alinhadas com as determinações da SR/PF/SP, com alguma adequação às necessidades locais. O primeiro passo foi avaliar e instrumentalizar o trabalho remoto, dentro das diretrizes da DG, verificando quais setores seriam passíveis desse tipo de rotina e quais exigiriam presença física (serviço de plantão aeroportuário, serviço de sobreaviso da unidade). Conseguimos apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas para vacinação de todos os servidores quanto à Influenza e, posteriormente, testes rápidos para detecção de Covid19 e, mais recentemente, por método sorológico, identificando casos assintomáticos ou recuperados. Foram estabelecidas medidas rígidas de higienização e ventilação de ambientes e redução do atendimento presencial ao público externo, disponibilizando canais de comunicação e manutenção de atendimento à distância à sociedade. Paralelamente a isso, com a implantação e aperfeiçoamento da Polícia Federal quanto aos seus sistemas de acesso remoto, implantou-se uma nova realidade à instituição e, por conseguinte, à unidade em Campinas. Adaptamo-nos, evoluímos e acreditamos que essa nova realidade imporá mudanças definitivas e significativas em nossos ambientes de trabalho e rotinas, mesmo após a superação das medidas de distanciamento. A Polícia Federal tem disponibilizado cursos diversos de gestão e liderança para seus gestores e tenho aproveitado para preparar-me para essa nova realidade e incentivado que outros colegas os façam.


O senhor tem o percentual de Policiais Federais que foram infectados pelo COVID-19? Teve alguma morte?


Não tivemos mortes na unidade, mas constatamos um número significativo de policiais e colaboradores assintomáticos. Os exames ainda estão em andamento, mas aqueles que tiveram resultado positivo ou estão em grupo de risco, estão sendo preservados nos moldes da INI 161/2020, acompanhados e assistidos com o máximo de atenção possível.


Existem déficits de servidores em campinas? Qual o percentual?


Acredito que nenhuma unidade da Polícia Federal esteja com seu quadro integrado por número suficiente de servidores, tendo em vista a complexidade cada vez maior das investigações e o rol de nossas atribuições. Campinas tem atribuições geográficas e demográficas consideráveis e o número de policiais já foi maior. No entanto, tanto a DG quanto a SR têm tido especial sensibilidade neste tema e providenciado disponibilidade de vagas para a unidade em concursos de remoção. Acreditamos que possamos receber novos colegas nesse ano de 2020.


O que o senhor gostaria de transmitir aos policiais federais que vão ler a matéria?


Com uma oportunidade dessas, de falar abertamente aos colegas, não posso deixar de dizer o quanto tenho orgulho e sou realmente feliz por fazer parte dessa instituição, de ter os amigos que tenho e de ter feito essas amizades durante minha carreira até aqui. Tenho satisfação de ter ombreado tantos colegas nesse trabalho homérico que conseguimos realizar pela sociedade. Espero que todos alimentem essa mesma chama dentro de si e que se empenhem cada vez mais em aperfeiçoar-se e dedicar o seu melhor à essa respeitabilíssima Polícia Federal que aí está.




Associação dos Delegados da Polícia Federal

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